sexta-feira, 11 de maio de 2012

A grande fábrica de palavras

Existe um país onde as pessoas quase não falam.É o país da grande fábrica de palavras.
Nesse estranho país, é preciso comprar as palavras e engoli-las para poder pronunciá-las.
A grande fábrica de palavras funciona dia e noite. As palavras que saem de suas máquinas são tão variadas quanto a própria linguagem.
Existem palavras que custam mais caro do que outras. As pessoas falam muito pouco essas palavras, a menos que elas sejam muito ricas.
No país da grande fábrica, falar custa caro. Quem não tem dinheiro ás vezes cata palavras nas latas de lixo, mas essas palavras são sem graça: tem muito cocozinho de cabrito e pum de coelho.
na primavera, podemos comprar palavras em promoção e levar pra casa um monte de palavras baratas.
mas quase sempre essas palavras não servem para grande coisa: o que fazer com ventríloco e filodentro?
às vezes, é impossível encontrar algumas palavras no ar. Quando isso acontece, os meninos correm com suas redes de pegar borboletas. Eles ficam orgulhosos de poder dizer algumas palavras a seus pais, à noite, no jantar.
Hoje Philéas pegou três palavras com sua rede. Ele não vai usá-las esta noite, porque ele quer guardá-las para falar a alguém muito especial.
Amanhã é o aniversário de Cybelle. Philéas está apaixonado. Ele gostaria muito de dizer a ela "Eu te amo", mas ele não tem dinheiro o bastante em seu cofrinho.
Então ele vai oferecer a ela as palavras que encontrou: "cereja, poeira, cadeira".
Cybelle mora na rua ao lado. Philéas bate em sua porta. Ele não diz "Bom dia, como vai você?", pois não tem essas palavras guardadas. Em vez disso, ele sorri. Cybelle está com um vestido vermelho cor de cereja. Ela também sorri.
Atrás dela, Philéas vê OScar. Oscar é seu maior inimigo. Os pais dele são muito ricos, mas não é por isso que Philéas o detesta. Oscar não sorri. Ele fala. Para Cybelle.
"Eu te amo com todo o meu coração, minha Cybelle. No futuro, tenho certeza, nós vamos nos casar."
"-Isso deve ter custado uma fortuna!"- pensa Philéas. Cybelle sorri sempre, mas Philéas não sabe para quem é seu sorriso.
Nos olhos de Oscar há muita segurança.
"-Minhas palavras são muito pequenas!"- pensa Philéas. Ele inspira profundamente e,sobretudo, pensa em todo o amor que tem no seu coração.
Em seguida, fala as palavras que pegou na sua rede. As palavras voam para Cybelle: elas são como pedras preciosas.
-Cereja! Poeira! Cadeira!
Cybelle não sorri mais, apenas olha para Philéas. Ela não tem palavras guardadas. Então chega devargazinho perto dele e dá um beijo doce no seu rosto.
Philéas tem apenas uma palavra a mais para dizer. Ele a encontrou, há muito tempo em uma lata de lixo, entre centenas de cocozinhos de cabrito e puns de coleho.
Ele mama muito essa palavra, por isso, a guardava para um grande dia. Esse grande dia chegou!
Olhando nos olhos de Cybelle, ele diz:
"-Mais!"

(Agnés de Lestrade, Valeria Docampo)

Li este livro e achei a história linda. Com a ilustração fica maravilhosa! ;)

Nenhum comentário:

Postar um comentário