terça-feira, 15 de maio de 2012

E mais Rubem Alves

Estou me dando o prazer de ler o que eu tenho vontade. Há anos leio apenas trechos de textos acadêmicos, ora porque os professores exigem, ora por serem leituras obrigatórias de concursos e vestibulares, outrora para preparar as minhas aulas. Enfim, o primeiro livro lido, com prazer, nesta nova saga foi Martin Heidegger e Hannah Harendt. Trata do caso de amor que os dois tiveram, e todos os elementos de alma que isto envolveu. Leitura bastante pertinente para o turbilhão que vivi nos últimos meses...
Bem, o segundo livro que me presentiei foi "Ostra Feliz Não Faz Pérola", do Rubem Alves. Uma delícia de ser lido! Cada trechinho me dá novas ideias. São tantas frases e pensamentos que me tocam que resolvi então postar aqui, já que anotando em papel acabo perdendo com o tempo (e com o caos de folhas espalhadas em meu quarto...).
É isto, anoto aqui para mim, para ser usado na posteridade. Se interessar a alguém, delicie-se comigo!

"Num outro lugar de seu diário, Camus registrou: Atenção. Kierkegaard, a origem dos nossos males está na comparação" (pág. 60)

"Prefiro a música do mar e do vento porque ela faz eco na minha alma" (pag. 56)

" A alma é um grande mar que vai depositando conchinhas no pensamento" (pag. 57)

segunda-feira, 14 de maio de 2012

O múltiplo e o simples

O Tao-Te-Ching, livro sagrado do taoísmo, já dizia há mais de um milênio que temos dois lados. Há um lado que olha para fora. Olhando para fora defrontamo-nos com o mundo da multiplicidade, 10 mil coisas que se impõem aos nossos sentimentos, nos dão ordens, nos atropelam, e nos enrolam aos trambolhões, como aquelas ondas de praias de tombo. Mas há um outro lado que olha para dentro. Aí os defrontamos com uma única coisa, o desejo mais profundo do nosso coração, aquela coisa que, se a tivéssemos, nos traria alegria. jesus contou a parábola de um homem que tinha muitas joias e que, ao encontrar uma única pérola maravilhosa, vendeu as muitas para comprar uma única. No primeiro lado mora o conhecimento, a ciência, a bolsa de valores, a cotação do dólar, as coisas que se podem comprar, e todas as coisas que compõem a nossa vida de fora. Essas coisas são "meios para viver"- ferramentas que podemos usar. No segundo mora a sabedoria, que é a capacidade para discernir as coisas que valem a pena. Num bufê, você encheria o seu prato com tudo o que está na mesa? Somente um tolo faria isso. Você consultaria o seu desejo: "De tudo isso que está à minha frente, o que é que realmente desejo comer?". Tolos são aqueles que, seduzidos pela multiplicidade, se entregam vorazmente a ela. Eles acabam tendo uma terrível indigestão... Sábios são aqueles que, da multiplicidade, escolhem o essencial. Simplicidade é isso: escolher o essencial.

(ALVES, Rubem. Ostra Feliz Não Faz Pérola. Pag. 48)

domingo, 13 de maio de 2012

2 anos lecionando

Parece que estou em sala de aula a vida inteira, mas neste mês completo o segundo ano como professora!São dois anos vividos intensamente, com grandes aprendizagens e ensinamentos. Neste período aprendi a perdoar, a esquecer, a reformular, e tentar controlar meus sentimentos, além de intensificar meu estudo e minha criatividade.
Não, não é fácil estar em classe com muitos alunos interessados em bagunçar. Também não é fácil a falta de material e recursos para melhorar o seu trabalho. Não é fácil ter a sua função desvalorizada por toda a sociedade (inclusive pelo aluno e sua família). Não é fácil encontrar alunos não alfabetizados na sétima série. E não é fácil lecionar o dia todo e a noite estudar para melhorar o seu trabalho.
MAS, apesar de todas as adversidades, eu ainda acredito na Educação, e estou disposta a aprender e ensinar (lições escolares, de vida e de sociedade) nos próximos muitos anos da minha vida.
Eu espero que sementes sejam plantadas para que muitos alunos frutifiquem e sejam donos de seus futuros (e não manipulados pelo sistema).
E que Deus esteja a frente de tudo!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

A grande fábrica de palavras

Existe um país onde as pessoas quase não falam.É o país da grande fábrica de palavras.
Nesse estranho país, é preciso comprar as palavras e engoli-las para poder pronunciá-las.
A grande fábrica de palavras funciona dia e noite. As palavras que saem de suas máquinas são tão variadas quanto a própria linguagem.
Existem palavras que custam mais caro do que outras. As pessoas falam muito pouco essas palavras, a menos que elas sejam muito ricas.
No país da grande fábrica, falar custa caro. Quem não tem dinheiro ás vezes cata palavras nas latas de lixo, mas essas palavras são sem graça: tem muito cocozinho de cabrito e pum de coelho.
na primavera, podemos comprar palavras em promoção e levar pra casa um monte de palavras baratas.
mas quase sempre essas palavras não servem para grande coisa: o que fazer com ventríloco e filodentro?
às vezes, é impossível encontrar algumas palavras no ar. Quando isso acontece, os meninos correm com suas redes de pegar borboletas. Eles ficam orgulhosos de poder dizer algumas palavras a seus pais, à noite, no jantar.
Hoje Philéas pegou três palavras com sua rede. Ele não vai usá-las esta noite, porque ele quer guardá-las para falar a alguém muito especial.
Amanhã é o aniversário de Cybelle. Philéas está apaixonado. Ele gostaria muito de dizer a ela "Eu te amo", mas ele não tem dinheiro o bastante em seu cofrinho.
Então ele vai oferecer a ela as palavras que encontrou: "cereja, poeira, cadeira".
Cybelle mora na rua ao lado. Philéas bate em sua porta. Ele não diz "Bom dia, como vai você?", pois não tem essas palavras guardadas. Em vez disso, ele sorri. Cybelle está com um vestido vermelho cor de cereja. Ela também sorri.
Atrás dela, Philéas vê OScar. Oscar é seu maior inimigo. Os pais dele são muito ricos, mas não é por isso que Philéas o detesta. Oscar não sorri. Ele fala. Para Cybelle.
"Eu te amo com todo o meu coração, minha Cybelle. No futuro, tenho certeza, nós vamos nos casar."
"-Isso deve ter custado uma fortuna!"- pensa Philéas. Cybelle sorri sempre, mas Philéas não sabe para quem é seu sorriso.
Nos olhos de Oscar há muita segurança.
"-Minhas palavras são muito pequenas!"- pensa Philéas. Ele inspira profundamente e,sobretudo, pensa em todo o amor que tem no seu coração.
Em seguida, fala as palavras que pegou na sua rede. As palavras voam para Cybelle: elas são como pedras preciosas.
-Cereja! Poeira! Cadeira!
Cybelle não sorri mais, apenas olha para Philéas. Ela não tem palavras guardadas. Então chega devargazinho perto dele e dá um beijo doce no seu rosto.
Philéas tem apenas uma palavra a mais para dizer. Ele a encontrou, há muito tempo em uma lata de lixo, entre centenas de cocozinhos de cabrito e puns de coleho.
Ele mama muito essa palavra, por isso, a guardava para um grande dia. Esse grande dia chegou!
Olhando nos olhos de Cybelle, ele diz:
"-Mais!"

(Agnés de Lestrade, Valeria Docampo)

Li este livro e achei a história linda. Com a ilustração fica maravilhosa! ;)